1. |
Buraco de ozônio
05:32
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Haverá um dia em que a Terra
Cansada de tanta combustão de tanto desperdício
Se cansará também dessa espécie predatória que é o Homem
Neste dia a vida estará por um fio
A atmosfera poderá nos escapar lentamente
Você aí, prezado ouvinte, finalmente haverá descoberto tudo
Mas será tarde demais
Há um buraco de ozônio sobre sua cabeça
Esse ninguém pode tapar
Ele pode impedir que as crianças cresçam
Ele pode te matar
Clorofluorcarbono destruindo a camada de ozônio
O efeito estufa vai fazer você boiar
Nas águas da calota polar
Queimando a floresta tropical ou petróleo na capital
A gente produz um certo gás aparentemente normal
Mas quando se acumula em excesso ele pode ser fatal
Isocianato de Metia
Césio 137
Monóxido de Carbono, Dióxido de Enxôfre
Mercúrio, Arsênico
Isocianato de Metila
Clorofluorcarbono destruindo a camada de ozônio (2x)
O efeito estufa vai fazer você boiar
Nas águas da calota polar
Pois a Terra não aguenta mais tanto lixo
Combustão e desperdício
Buraco de Ozônio sobre sua cabeça
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2. |
Luzes da cidade
04:18
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Quando ando só pelas ruas da cidade chego mesmo a me arrepiar
Já é madrugada não se escuta quase nada e os carros passam longe demais
A rua está escura e deserta só vultos e fantasmas a perambular
A minha solidão se mistura a paranoia e as sombras ganham vida no ar
Pânico, caras mau encarados
Medo, será que vão me abordar?
Pânico, caras mau encarados
Medo, será que vão me assaltar?
A minha paranoia é a minha solidão
Quanto tô tranquilo navegando na fumaça de repente vejo tudo mudar
É uma sirene correria confusão os “home” chegam para arrepiar
A paixão a arte o sexo o trabalho e a natureza rondam minha cabeça
Enquanto o coração dispara a boca seca e os cães lambem as pontas dos dedos
Pânico, tiras mau encarados
Medo, será que vão me espancar?
Pânico tiras mau encarados
Medo será que vão me levar?
A minha confissão é a minha solidão
Apague as luzes da cidade
Talvez a paranoia se dissolva em confusão
Talvez essa penumbra reacenda uma paixão
A luz há de brilhar na estrela e no luar
Talvez esse trabalho seja como uma arte
Talvez o sexo fique livre da maldade
Apague as luzes da cidade
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3. |
Buda de neve
00:18
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4. |
Síndrome da China
04:08
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Adeus América às ilusões
Um filme um fênix sem reprise
Adeus às armas seremos felizes
Apenas nos deslizes das paixões
Em Saporo, no inverno nipon
Soldados fazem um buda de neve
A cada dia a todo o dia eu sinto a síndrome da China
Sob os pés sem alegria
Síndrome da China
Em Saporo, no inverno nipon
Budas fazem soldados de neve
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5. |
Novo Homem
03:51
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O homem será feito
em laboratório.
Será tão perfeito
como no antigório.
Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
Jogará no bicho,
tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
Queimará arruda
indo ao canjerê,
e do não-objeto
fará escultura.
Será neoconcreto
se houver censura.
Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
em laboratório
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
Seja como for
(até num bocejo)
salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta
com riso maroto:
«Nove meses, eu?
Nem nove minutos.»
Quem já concebeu
melhores produtos?
A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
Corpo bem talhado?
Claro: não é mito,
é planificado.
Nele, tudo exato,
medido, bem posto:
o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afecto,
desconhece a aliança
de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio,
e, per omnia secula,
livre, papagaio,
sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem
Bem feito.
1. Este poema faz parte do livro “Obra Poética de Carlos Drummond de
Andrade” (Versiprosa), volume 4, editado pela Livraria José Olympio
Editora.
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond
www.carlosdrummond.com.br
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6. |
Fórmulas mágicas
00:13
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7. |
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Imacular o seio o sexo
Com uma nódoa, uma nada, um não
Da Vênus de Milo ou da Alexandra Kollontai
Um nódoa, um nada, um não (4 vezes)
Não é um incesto
Mas sim o melhor
Da festa, da vida, da fita
Da Vênus de Milo ou da Alexandra Kollontai
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8. |
Céu de vagabundo
03:49
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Fora do seu alcance por alguns segundos
Não sei se é hora de viajar pelo mundo
Seus olhos me alcançam que breu mais profundo
Um anjo da guarda num céu de vagabundo
As vezes vago noites sem sono
Mas o seu afago ainda é meu dono
Seu olhar vago me dá o trono
Mergulho e trago a luz do abandono
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9. |
Papéis
02:37
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Às vezes me vejo perdido em meio aos meus papéis
Que guardei tanto tempo nos cantos da vida
Às vezes me sinto inútil palhaço dos sons
Num mundo de formulas mágicas, poesias cifradas
De dia incessante pensar
De noite eterno sonhar, ilusão
Às vezes te vejo dormindo nos meus sonhos
Amando os meus maus humores
Vivendo de meus favores
De dia microeconomia
De noite macro-amores
Meu bem
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10. |
Vidas secas
04:35
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Sopra vento, venta areia que inceideia o seu dia
Ao vento soprar a chuva, lágrimas sofreguidão
Sertanejo num amoleça se o tempo não ajuda
Terra seca, vida dura, lástimas desse sertão
Cai, vai, sai, ca(í), ca(í)…
Faça que a chuva caia…
Cai, vai, sai, ca(í), ca(í)…
Sol de mar, céu de infinito, anoiteça ou amanheça
Dias passam, secas ficam nossas platas ao nascer
Nessa vida não se colhe só por crer, não esqueça
Ai de penar, ai de sofrer para ver terra ceder
Cai, vai, sai, ca(í), ca(í)…
Faça que a chuva caia…
Cai, vai, sai, ca(í), ca(í)…
Sertanejo vá à luta, não espere o céu brota(r)
Pois se hômi num lavra a terra, semente não nasce em vão
O Pai Grande ai de ajudartes, se merecer sua ajuda
E a chuva ai de cair e então brotar uma canção
Cai, vai, sai, ca(í), ca(í)…
Faça que a chuva caia…
Cai, vai, sai, ca(í), ca(í)…
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11. |
Pânico
00:19
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12. |
Nada de narda
02:44
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Eu quero um truque no final da túnel
Uma luz que não me deixe pinel
Eu quero uma flor da cor do Hulk
Um pulo de rã num poço de mel
Eu quero nada Narda sem Mandrake
Mágico pelado coelho de fraque
Mágico pelado
Eu quero um traque, OVNI conhecido
Um papo tranquilo no meio do céu
Eu quero um porre nas água do Nilo
Um alô no telefone de Babel
Eu quero nada Narda sem Mandrake
Mágico pelado coelho de fraque
Mágico pelado
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Duzao Mortimer Belo Horizonte, Brazil
Cientista que fala sobre budas de neve, fórmulas mágicas e o pânico do dia a dia.
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